A viagem

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A Maria João estava feliz, a mãe tinha-lhe prometido uma surpresa nesta viagem, mas a viagem estava longa, os olhos começaram a pesar e adormeceu profundamente.

Quando acordou estava já ao colo do seu avô, que alegria, nunca lhe passou pela cabeça que a surpresa fosse uma viagem para ir ter com os avós!

O avô Pedro era uma velhote maduro, com uma fisionomia bastante afável, sorriso largo, beijava carinhosamente as bochechas da pequerrucha, enquanto a avó Luísa, bonacheirona e com o ar simpático que a caracterizava, lhe afagava os cabelos com frases de boas vindas e saudades.

Estava tão feliz, tudo era tão bonito, o seu peito apertado pela surpresa nem a deixava falar como deve ser tamanha a alegria que transbordava do seu coração de criança, já há muito tempo que não os via e as recordações do jardim e da horta afinal ficavam muito aquém da realidade, tudo estava muito bem cuidado, limpo, do ar exalavam cheiros frescos do campo e a luminosidade do sol contribuía para um cenário quase místico.

Começaram a deslocar-se na direcção da casa, os avós embora velhotes andavam com uma facilidade jovial e enquanto foram entrando na residência a Maria João ficou momentaneamente confusa, na sua cabecita de 7 anitos parecia recordar-se de certa vez ter ouvido os país mencionarem que era uma pena a casa dos avós estar ao abandono, mas devia existir algum engano, ou as coisas tinham mudado muito desde essa conversa, claro, era isso de certeza, a casa de campo embora simples, estava extremamente bem arrumada e cuidada, devem ter feito obras pensou, tudo tinha aspecto de novo, embora os móveis estivessem fora de moda e as fotos fossem a preto e branco, tudo estava impecável...

Que fixe, pensou Maria João, naquela reunião de família, para além dos avós, estavam presentes uns tios e primos afastados que nunca tinha tido oportunidade de conhecer, todos a tratavam muito bem, era o centro das atenções... mas de repente reparou, e a mãe?!

Com o olhar indagador interpelou o avô que ainda a detinha no colo - Avô onde foi a mãe?

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Anabela acordou de um sono profundo, a sua cabeça estava baralhada, tinha estado a dormir não sabe quanto tempo, sentia-se tonta e não reconhecia onde estava.

Do seu lado esquerdo reparou no marido, segurava-lhe a mão com ternura, sorriu-lhe, tinha um ar abatido, cansado, olheirento, mas parecia aliviado por vê-la acordada.

Sentiu dores e reparou que tinha um frasco por cima da sua cabeceira, este por sua vez estava ligado ao seu braço direito... mau (pensou) isto é soro? Que me aconteceu?

Numa fracção de segundos vários flashes lhe invadiram a mente, viagem ao parque aquático, carro... num engasgo conseguiu pronunciar:

Edgar, a Maria João?

Ele não respondeu, mas as lágrimas que lhe viu correr pela face e a sua intuição de mãe, fizeram-na compreender a situação.

Ficção
20.12.20
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