Diário de uma pequena viagem a Marrocos

 




Nota introdutória:

Nunca senti qualquer vontade de visitar um país árabe, não sentia o menor apelo ou afinidade para tal, embora eu não tenha o mais leve traço de racismo ou xenofobia, tinha uma ideia completamente diferente da realidade, um grande preconceito e o sentimento de que não iria gostar minimamente de visitar nenhum país Islâmico.

Ora, Marrocos enquadra-se no quadro pintado acima e quando a minha mulher me fez a surpresa de adquirir uma viagem de poucos dias a esse destino, não fiquei a pular de alegria, embora tenha feito um esforço interior para ir de mente aberta, até porque ela me dizia que eu estava completamente errado, tive de confiar pois ela já lá tinha estado.

Em boa hora fui, mudei completamente a percepção que tinha e fica aqui o relato, fotografias e vídeos destas mini-férias de cinco dias.

Nem todas as fotografias são da minha autoria, uma ou outra foi tirada pela Liliana, mas enfim, somos uma família certo? 😊


Primeiro dia:

Viagem planeada já há algum tempo, vários passeios comprados com antecedência e já dentro do avião, quando nos preparávamos para colocar o telemóvel em modo de avião recebemos a mensagem que o passeio do dia seguinte estava cancelado devido à morte de uma pessoa.

Ok, algum stress qb, o que vamos fazer amanhã?

Decidimos ignorar este primeiro contratempo, tudo se irá resolver da melhor forma.

Chegada a Marraquexe, uma fila enorme para verificação do passaporte, teste de paciência... chega a minha vez e perguntam qual é a minha profissão e onde vou ficar hospedado.

Uma série de tempo a olhar para o passaporte e para mim, troca de impressões em árabe com o colega do lado e lá me carimbaram o dito cujo, honestamente acho que foi só uma forma de mostrar quem é que manda ali 🤷🏻‍♂️ papeis na mão novamente... e surpresa... nova verificação do passaporte 10 metros mais à frente, se calhar existem pessoas do mal que conseguem fazer asneira em 10 metros!

Lá saímos do aeroporto, encontrámos o motorista do transfer (que nos aguardava) e somos atirados para o trânsito caótico e aparentemente sem regras, ui que nervos.

Do meu ponto de vista, nos cruzamentos sem semáforos quem tem prioridade é quem se atira lá para dentro primeiro, motinhas com fartura que furam por onde dá, muita gente sem capacete a andar de mota, três pessoas em cima de uma motoreta vê-se com bastante frequência, mas chegámos a ver quatro (uma delas um bebé de colo... sem capacete, claro).

Já nos cruzamentos com semáforos, todos param no vermelho excepto as benditas motoretas (se eu fosse católico até me benzia com as coisas que vi), pelos vistos as motas fazem o que querem, incluindo entrar em sentido proibido, aparentemente a regra para as motinhas é: se há espaço dá para ir!

Referirmos ao condutor do transfer que o nosso passeio do dia seguinte tinha sido cancelado imediatamente antes de o avião sair de Lisboa e agora era capaz de ser tarde para conseguir organizar outro passeio equivalente.

Perguntou onde era o passeio e desatou a telefonar a amigos para nos ajudarem, em menos de 15 minutos e ao mesmo tempo que nos conduzia no meio do trânsito medonho, já tínhamos o passeio organizado, com preço regateado e tudo, brutal!

Entretanto o motorista refere que a nossa rua de destino fica numa zona labiríntica sem acesso a carros (e mostra o Waze a provar), telefona a um gajo qualquer que nos vai levar à casa onde ficaremos hospedados (a troco de dinheiro, claro).

Embrenhamo-nos por aquelas ruelas dentro, não sem antes arriscar a vida a atravessar a rua caótica onde o motorista nos deixou.

Cheiros novos, sons novos, um ambiente completamente diferente do que tinha visto até hoje (parece um cenário de filme), e agora vira à esquerda, depois à direita, encosta à parede porque as motas cabem ali e não vão devagar, não faço ideia onde estou, mas seguimos o guia, mais à frente entramos numas ruelas desertas e mal iluminadas (algum frio na barriga, confesso), até que finalmente chegamos a uma porta lindíssima e o senhor bate à porta.


Somos recebidos pela nossa anfitriã, pagámos ao guia, algum alívio misturado com a expectativa relativamente ao alojamento, mas, surpresa muito positiva como dá para ver pelas fotografias.





Segundo dia:

Acordamos cedíssimo, tomamos um pequeno almoço digno de um rei:


E lá seguimos para o ponto de encontro, o nosso guia atrasou-se um pouco, mas nada de grave, seguimos então viagem rumo às montanhas do Atlas.

Começámos por parar numa cooperativa de mulheres que fabricam o óleo de argão na aldeia de Asni (uma de muitas bastante afectada pelo sismo recente), explicaram todo o processo e no fim claro, está a comprar uns oleozinhos porque as senhoras não estão ali só para falar.




Dali começámos a subir por uma das estradas que percorrem o Atlas e passámos por uma área bastante grande perto do epicentro do sismo.

Muita casa escaqueirada e muita gente a viver em tendas fornecidas temporariamente pelo Estado Marroquino (enquanto decorrem obras de reconstrução).






De salientar que as estradas estão um caco por causa do sismo 


Mas também com quilómetros e quilómetros de obras, informaram que são obras de melhoramento que já começaram antes do sismo, mas que transformaram a viagem num suplício.

Chegámos ao Vale de Imlil e aqui é que rebentaram connosco.


O guia que nos aguardava (um berbere desdentado, muito simpático e um ar castiço), levou-nos num percurso a pé, muito lindo mas que nos colocou (os meninos sedentários) à beira do desfalecimento... mas faz bem à saúde 😆

Vistas maravilhosas, cascatas, aldeias e gentes completamente diferentes do que estamos habituados, mas muito fixe.











Levaram-nos a comer uma tajine tradicional, feita com galinha e legumes caseiros, epá, delicioso!

Todos rebentados, chegou a hora de nos despedimos e voltamos ao carro.

Dali seguimos para o deserto de pedra Agafay, o planalto de Kik e o lago Takerkoust, meti conversa com o guia e aprendi bastante sobre o Islão, o que dizem as orações das mesquitas 5 vezes ao dia, bem como imensas curiosidades que tinha sobre as tradições locais.

Confesso que fiquei impressionado com o deserto de pedra, quilómetros e quilómetros a perder de vista com uma paisagem tão desoladora quanto bonita.









E claro, os camelos não podiam faltar, mas obviamente não demos uma volta de camelo (não quisemos fazer parte desse tipo de turismo).



Voltámos para Marraquexe ao início da noite e enquanto estava no terraço do nosso alojamento (no centro da Medina) a descansar, começaram as mesquitas à minha volta com a oração das 19h.


Mas desta vez já sabia o que estavam a dizer (segue a tradução):

Allahu Akbar, Allahu Akbar - "Deus é o maior, Deus é o maior."

Ashhadu alla ilaha illa Allah - "Testemunho que não há outra divindade além de Deus."

Ashhadu anna Muhammadur Rasul Allah - "Testemunho que Muhammad é o Mensageiro de Deus."

Hayya 'ala-s-Salah - "Apressai-vos para a oração."

Hayya 'ala-l-Falah - "Apressai-vos para o sucesso."

Allahu Akbar, Allahu Akbar - "Deus é o maior, Deus é o maior."

La ilaha illa Allah - "Não há outra divindade além de Deus."

Durante a chamada para a oração da madrugada (Fajr), há uma frase adicional: 

"As-salatu khayrun minan-naum," que significa "A oração é melhor do que o sono."


Terceiro dia:

Pelas 6h45 da manhã já me estava a despachar cheio de preguiça para o passeio do dia, ouvi a primeira oração da manhã, mas a parte em que dizem que a oração é melhor do que o sono deu-me nervos pois de facto só me apetecia dormir 😆

Seguimos para a maior viagem destas mini-férias, voltámos a subir o Altas, mas desta vez por outro local (e estradas muito melhores), passámos no ponto mais alto alcançado por estrada.


Verifico as estacas que medem a neve durante uns quilómetros, mas o guia explica que este ano não nevou nem uma grama.

E seguimos em direcção a Ouarzazat cujo significado é "local sem barulho".



É uma localidade simpática, mas o que nos levou ao local foram os estúdios de cinema, sim, Ouarzazat é a Hollywood de África e imensos filmes e séries que vocês já viram foram filmados no Atlas Studio.



Exemplos:

A paixão de Cristo, O gladiador II, Prision Brake, Cleópatra, Astérix e Obélix: missão Cleópatra, A Múmia, Ben-Hur, etc...

Mas e esta paisagem, conhecem de algum lado?


Vou mostrar-vos a cena que foi aqui filmada para recordarem (ainda por cima uma das minhas cenas preferidas de A Guerra dos Tronos 😍)

Fonte: YouTube

O espaço está muito giro e podemos andar pelos cenários de inúmeros filmes e séries nossos conhecidos, nunca eu pensei andar dentro de pirâmides do Egipto, pelas ruas do Paixão de Cristo e muitas outros cenários.








































Mas a cena mais gira foi por culpa deste senhor:


Passo a explicar --> Estavam a decorrer várias visitas guiadas ao mesmo tempo aos estúdios de cinema, é um espaço enorme e dá perfeitamente para fazerem isso, no entanto, o senhor local que nos calhou como guia (foto acima) tinha gosto em explicar tudo detalhadamente e fomos apanhados pelo grupo seguinte, ora quando estávamos num cenário que foi usado num filme do Astérix, ele deixou-se ficar propositadamente e deixou o grupo que nos apanhou ir embora (ultrapassaram-nos na visita) depois veio com a possibilidade inusitada de se gravar uma cena com um telemóvel de um de nós naquele mesmo cenário, um senhor que lá estava passou-lhe o telemóvel e o resto foi magia 😆😆

A Liliana foi eleita para fazer de Cleópatra e eu fui um dos parvos que abriu o portão, ora vejam esta obra de arte:


Ficou espectacular ou não?! 

Diverti-me mesmo muito 😂 e o outro visitante que forneceu o telemóvel enviou o vídeo para todos.

Mas não são só filmes e séries que aqui são filmados, temos também alguns anúncios, como por exemplo este a um relógio da Hermés.

Fonte: YouYube

O local onde foi filmado também lá está:



De seguida no restaurante onde fomos, dei de caras com o Hugo e a Lari, é praticamente impossível quem tem redes sociais nunca ter tropeçado num vídeo deste casal, meti-me com eles e trocamos uns dedos de conversa... não pedi para tirar fotografia com eles porque acho isso abusivo, mas quem quiser vai ver de quem estou a falar no seu canal do YouTube:

Lari & Hugo

Como sabem, deixei de ter contas nas outras redes sociais da moda, mas podem procurar por eles no TikTok, Instagram, Facebook e essas coisas... nunca me passou pela cabeça um dia falar com eles, mas enfim, mais uma experiência curiosa em Marrocos.

Após mais um repasto ao almoço, fomos visitar a fortificação Kasbah, situada em Aït-Ben-Haddou um local muito antigo (século XI) que serviu durante muitos séculos de ponto de passagem e descanso das caravanas de camelos que ligavam o Sahara a Marraquexe.






Mais um dia em cheio, terminando com um pequeno passeio a pé por umas ruelas de Marraquexe, a dar festinhas nos imensos gatos vadios que por ali habitam (não têm medo nenhum de pessoas!), e a conversar aqui e ali com vendedores locais bem simpáticos e que não nos tentaram impingir nada.



Quarto dia:

O dia em que aprendi mais!

Tínhamos contratado um guia para a parte da manhã (visitar alguns pontos da cidade de Marraquexe a pé), o guia fala muito bem português (com um ligeiro sotaque de português do Brasil), quando lhe perguntei como tinha aprendido a falar português tão bem, indicou que foi guia toda a sua vida profissional e aprendeu com turistas portugueses e brasileiros.

Um poço de conhecimento ambulante, explicou uma série de coisas que jamais descobriríamos sozinhos, por exemplo, porque motivo muitas portas têm dois batentes.


Em primeiro lugar convém referir que os riades (casas com patios interiores), são feitas de fora para dentro, quem passa no exterior não sabe o espectáculo que é o seu interior, dessa forma não existiam diferenças exteriores entre as casas dos ricos e dos pobres, a não ser talvez o tamanho e a zona da cidade onde estão situadas.

Dão muita primazia pelo discreto fazendo as casas sem espalhafato para o exterior.

Pois muito bem, os dois batentes são (ou eram, porque a nova geração está a perder um pouco os hábitos antigos) uma forma de protecção à intimidade da mulher.

A mulher anda tapada com o hijab na rua, mas em casa andam à vontade, ora se uma pessoa que não é da casa bater à porta, bate num dos batentes, se for da casa ou amigo íntimo da família, bate à porta no outro batente, desta forma a mulher sabe se é ou não necessário cobrir-se com o traje tradicional.


O facto das portas terem uma abertura mais pequena e outra maior, também tem explicação:

A abertura mais pequena é a porta do dia a dia, a outra maior, só é utilizada em momentos especiais (alegres ou tristes), como casamentos, falecimentos, etc.

Antes do Islão ter sido trazido pelos árabes, os berberes já tinham crenças pagãs, algumas mantiveram-se até hoje, como por exemplo esta do cadeado:


Nesta janela perto da praça Jemaa el-Fnaa quem têm um problema grave vem fazer uma espécie de promessa colocando o cadeado, depois de resolver o problema, vai lá tirar o cadeado e deixa uma oferta.

Visitámos a antiga igreja católica (agora existe outra mas não cheguei a visitar).


E chegamos à praça Jemaa el-Fnaa demos por lá uma volta, tento fugir ao máximo dos locais mais turísticos, mas até parecia mal vir a Marraquexe e não ir à Jemaa el-Fnaa, o guia foi-me respondendo às questões sobre a ocupação francesa no passado, sobre política, religião, enfim, aprendi mesmo muito.






Por exemplo: os berberes não se chamam a eles próprios berberes (são os Amazir), quem lhes colocou esse nome foram os romanos, eram os bárbaros (berberes). Engraçado não é?

Os berberes tem um alfabeto próprio (como podem ver na fotografia que fiz em Aït-Ben-Haddou).


E recentemente com a chegada da primavera árabe, por forma a não criar divisões dentro do país o estado introduziu o Berbere como língua oficial ensinada nas escolas, colocando também o Berbere na identificação dos edifícios publico. Neste exemplo vemos uma escola primária identificada em Árabe, Berbere e Francês.


O local das pousadas mais caras durante séculos, utilizadas pelos mercadores que vinham com as suas caravanas de camelos cheios de carga, precisavam de locais seguros onde se hospedar com os seus artigos em segurança, são espaços enormes que hoje pertencem ao Estado de Marrocos, são mantidos impecáveis e alugados aos vendedores que podem pagar tal renda, servindo mais ou menos como um centro comercial, mas onde os traços de história são preservados, como por exemplo esta balança muito antiga usada para os mercadores pesarem os artigos nos seus negócios.



Uma coisa curiosa que o guia que nos levou a Ouarzazat já nos tinha dito (e o guia desta manhã confirmou) é que pelos vistos os marroquinos adoram gatos e praticamente todas as casas tem no mínimo um gato, mas cães nem por isso 😔

Ainda assim existem pessoas que alimentam os cães vadios que se vão vendo, na praça Jemaa el-Fnaa vimos cinco cães médios/grandes, fizemos uma festinha num dos cães e foi do catano, vieram cinco cães a acompanhar-nos uma série de tempo, sendo que um deles quando eu lhe deixava de dar atenção para ouvir o guia, dava-me toques com o focinho na mão como quem diz "hey, estou aqui, quero mais festinhas" 🤣

Mostrou-nos bastantes coisas que ficaram danificadas no sismo (ainda é visível em muitos locais), explicou imensas coisas da história de Marrocos, explicou o motivo de a anterior mesquita ter sido demolida a alguns séculos e porque mais recentemente os pilares antigos terem sido marcados e qual a importância para algumas cerimónias islâmicos actuais, passámos pelo palácio real, jardins e chegámos à muralha interior que delimitava o espaço dos sultões antigamente.












Marraquexe foi fundada por Yusuf ibn Tashfin no ano de 1070. Esta cidade tornou-se um importante centro dos Almorávidas, passámos pelo mausoléu dele, super simples de acordo com o que pediu antes de morrer.


Daí passámos pelo bairro judeu.

Os judeus expulsos da Europa, encontraram um espaço onde foram bem recebidos e estabeleceram-se com sucesso.

As casas deles reconhecem-se pelas varandas nos andares superiores (só os judeus faziam varandas) e lojas no r/c.

Ainda hoje se encontram muitos judeus em Marraquexe, mas desde que foi fundado o estado de Israel o número ficou bastante mais reduzido.


Próxima paragem, palácio Badii, uma construção muito antiga, infelizmente destruída em parte por um sultão contemporâneo de Luís XIV, que retirou deste palácio imensa coisa na tentativa de construir um palácio parecido com Versalhes 🤦🏻












Parte deste monumento não foi possível visitar porque o sismo o danificou bastante e o Palácio da Bahia também não porque estavam a decorrer filmagens para um documentário... a desculpa ideal para voltar noutra altura e com mais tempo.

Depois disso despedimo-nos do guia e ficámos finalmente largados à nossa sorte nos labirintos dos souks onde fizemos algumas compras.





Fomos enganados no restaurante onde almoçámos (fiquei tão triste que nem me apetece falar disso), mas foi a única experiência negativa.

Com a preciosa informação que o guia nos indicou de manhã, seguimos até ao Le Jardin Majorelle.

Bonito o que o pintor Jacques Majorelle e o costureiro Yves Saint Laurent fizeram por aqui ❤️


















Depois, mais souks e mais calor!!



Mais contacto com estas pessoas simpáticas e acolhedoras (é impossível descrever como fomos tão bem tratados), mais contacto com os imensos gatos espalhados pela cidade, gatos esses que por serem bem tratados não têm qualquer receio dos humanos, recebendo festinhas na boa, não fogem, antes pelo contrário!




Aliás, a malta em Marrocos gosta tanto de gatos que até vimos este tipo de estruturas na rua:

Ou até uns homens a tentar salvar uns gatos presos numa varanda!

A propósito disso, antes do jantar (mas já de noite) voltámos à praça Jemaa el-Fnaa (só porque nos disseram que de noite era muito diferente), aquilo para mim não tem grande piada, gosto muito mais de andar pelos souks, mas não interessa, isso é o meu gosto pessoal, no entanto no caminho aconteceu uma coisa muito engraçada e digna de registo:

Ao nos perdermos de propósito andando por aquelas ruelas cheias de cheiros e gentes espectaculares, fomos dar a uma rua principal (o que já não tem grande piada), mas como víamos a cotobia ao longe e servia de ponto de referência para onde nos pretendíamos deslocar, decidimos descer a dita rua.

Ora nas ruas principais de qualquer cidade, existem outdoors, placas a anunciar a existência de associações, advogados, etc.

Pois muito bem, vi uma que dizia "Canino de ouro" (em francês) e pensei imediatamente - ahhhh afinal também existem associações de ajuda aos cães - fui espreitar todo contente e afinal era o nome de uma clínica dentária! 🤦🏻

Entretanto deixo aqui um exemplo da confusão na praça Jemaa el-Fnaa durante a noite.





No fim do dia a cereja no topo do bolo, depois de um belo repasto num restaurante de gente cinco estrelas, ao regressar ao alojamento, a nossa anfitriã brindou a minha mulher com uma viagem de mota, sem capacete, pela confusão das ruas de Marraquexe 😆

Era suposto ela levar a Liliana só ao final da rua e voltar.


No entanto, depois de a nossa anfitriã ter desaparecido no fim da rua, passou-se 1 minuto, 5 minutos, 10 minutos (confesso que já estava preocupado) e por volta de 15 minutos depois lá regressou com a Liliana inteira, ela teve a experiência de andar no meio da confusão pelas ruas de Marraquexe 😅


Enfim, belas experiências durante estes dias.


Quinto dia (o último)

Hoje estivermos na preguiça até às 8h da manhã, tomámos o belo do pequeno almoço, e depois de tudo tratado e arrumado fomos passear ao acaso por Marraquexe.

Fiquei a gostar muito da cidade e das pessoas de Marrocos, gente muito acolhedora e simpática.

Não referi até este momento, mas em todo o lado que fomos durante estes dias, não são só as motinhas que existem em abundância, são também os burros, mulas e machos... mesmo dentro da cidade de Marraquexe esses animais ainda são muito utilizados a puxar carroças e a transportar pesos.







Mais tarde voltámos ao restaurante que gostámos mais nestes dias, ficaram contentes por nos ver novamente (!!!) e até nos ofereceram sumos de laranja natural, almoçamos e fomos até casa.

A despedida da nossa anfitriã foi emotiva...


E o guia que nos levou Ouarzazat no primeiro passeio não falhou à sua palavra e estava à nossa espera no local e hora combinados, lá nos levou ao aeroporto.

A única nota digna de registo é que o serviço de fronteiras de Marrocos é uma seca, tivemos de mostrar o passaporte 5 vezes até chegar à porta de embarque... e sim, até no aeroporto existem gatos, os gatos é que mandam em Marrocos 😆


E em jeito de conclusão:

Obviamente memos coisas que são choques culturais, como por exemplo no aeroporto fila para o raio-X para mulheres e fila para homens (e não há qualquer possibilidade de fintar isto), ou mulheres cobertas com o hijab (no pequeno vídeo seguinte fiz de conta que estava a filmar a rua, mas o objectivo era mostrar a mulher do lado esquerdo da imagem, como exemplo):




É um pouco estranho andar na rua e ouvir isto tanta vez (5 vezes ao dia):



Ou os talhos ao ar livre com a carne ali, à mercê das moscas e tal (está mal filmado porque o fiz às escondidas):



Fiquei agradavelmente surpreendido com a culinária, muito bom mesmo, desde os guisados tajine, às espetadas brochette (que podem ser de frango, vaca, borrego e até vegetarianas) a inúmeras outras coisas que não decorei o nome.


E os doces... ai os doces são uma perdição!

Adorei o pouco que conheci (uma boa desculpa para voltar), fiquei deveras impressionado com a pobreza e ao mesmo tempo a generosidade deste povo.

Embora tenha tentado ao máximo fugir dos clichês turísticos (como sempre), muitas vezes tal não foi possível, mas vá, ter ainda assim conseguido tomar um banho de realidade e perceber que somos uns felizardos (por vezes até mimados) por termos nascido na Europa, mesmo num país com os problemas do nosso.

Marrocos neste momento (Janeiro de 2024) tem ordenados médios na ordem dos 2000 dirhams no privado e 4000 dirhams para os funcionários do estado (mais ou menos 200 euros e 400 euros respectivamente) com o gasóleo a 15 dirhams o litro (1,5 euros) quando cá está a 1,6 euros com ordenados muito superiores... já não falando de um apartamento modesto por 300 mil dirhams (30 mil euros), mas que pouca gente tem acesso.

Emigrar não é opção para a esmagadora maioria, isto porque o Estado Marroquino só permite sair do país se fores em turismo e para não correr riscos que vás em turismo e já não voltes, só pode sair do país quem tem uma determinada quantia no banco (e é uma quantia elevadíssima), assim, ou és classe média alta ou rico e saís e entras do país, ou se és pobre, só se arriscares uma travessia para a Europa numa daquelas viagens muitas vezes com o final infeliz que vemos nos noticiários.

Enfim, é um país pobre com muita gente a viver com dificuldades, mas ao mesmo tempo um país de gente acolhedora, simpática, com um sentido de humor cinco estrelas (fartei-me de rir com o excelente sentido de humor deles) e embora o choque de culturas esteja presente em inúmeras coisas, percebi que têm a mente muito mais aberta do que eu julgava.

Vou ter saudades!








شكرا المغرب


Fotografia
28.1.24
2

Comentários

Liliana disse…
❤️
Francisco Reis disse…
❤️

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