Photo by kilarov zaneit on Unsplash |
Durante o descontraído passeio a pé por aquele
local que não percorria há tanto tempo, olhou para a sua esquerda e
reparou que os pinheiros ainda lá estavam! E isso fê-lo recuar alguns
anos no espaço de nada – que giro – pensou, foi ali,
à sombra de um daqueles pinheiros que tinha dado o seu primeiro beijo.
E isso espoletou outras recordações que o fizeram sorrir.
Começou por se recordar que sempre tinha sido um atraso de vida relativamente ao sexo feminino,
por exemplo durante o ensino preparatório teve a primeira
namorada, chamava-se Isabel e durante um período de tempo passavam os
intervalos das aulas a passear
de mão dada, só isso, nem um beijinho sequer... e eram namorados!
Não conteve o riso, mas aquela memória soube-lhe bem.
Mais tarde, no verão de 1990, então com 16 anos,
tinha ali passado as férias com os seus pais. Malta da sua idade para o
acompanhar não existia, ou eram muito novos, ou eram muito velhos e foi
assim por força das circunstâncias que começou
a dar-se com uma rapariga de 22 anos, 6 anos de diferença nessas idades
é muito, mas a coitada deveria estar com o mesmo problema (só existiam
crianças e velhos por ali), inicialmente talvez por compaixão, começou a
falar com a
criança mais crescida da zona, ele mesmo, mas curiosamente deram-se bem.
O verão, tão propicio a amores fugazes durante a adolescência, teve o seu efeito nas férias daqueles dois.
Decidiu aproximar-se dos pinheiros mansos,
sentou-se numa pedra grande à sombra de um deles e deixou a memória
guiá-lo.
Ela chamava-se Maria João, mas ele tratava-a só por João,
lembra-se que das primeiras vezes em que achou ter percebido
uma tentativa de aproximação por parte dela, pensou que fosse
imaginação, ao fim e ao cabo ela era muito gira, aos seus
olhos de garoto era uma mulher feita, porque motivo uma rapariga tão
vistosa e bonita se ia atirar a um miúdo com 16 anos?
Até que numa tarde com demasiado calor para se estar na praia, foram passear e sentaram-se naquela mesma sombra.
Caraças, as lembranças que lhe ocorriam
colocaram-no a rir-se sozinho naquele mesmo local tantos anos depois,
afinal de contas não deve ter acontecido a muitos rapazes de 16 anos (e
tímidos) levarem um
xeque-mate daqueles!
Ao fim de uns minutos de conversa e brincadeiras cúmplices, a
desgraçada da miúda largou a bomba:
Olha lá, ou eu não te digo mesmo nada enquanto mulher, ou então és mesmo parvo de todo, por isso, ou dás-me um beijo ou bazas daqui!
Ele escolheu beijá-la, aquele xeque-mate esteve longe de ser um contexto romântico, mas no caso o amor também não existia,
poderá mesmo dizer-se que para ele foi mais por curiosidade e excitação
de viver coisas novas. O resto das férias foram
bonitas e loucas, incluíram beijos, abraços, encontros às
escondidas, corações acelerados, promessas tolas... depois chegou o
outono, viviam longe um do outro, não existiam
telemóveis e
nunca mais se viram.
Levantou-se, passou a mão pelo tronco da árvore
mais próxima e concluiu mentalmente – acho que ao envelhecer ficamos parvos!
Publicações relacionadas
Ficção
25.4.21
0
Comentários